sexta-feira, 14 de maio de 2010

uma CARTA para a ATRIZ em CRISE

Partimos de um texto cheio de poesias e imagens, moçambicano, contemporêneo, rumo a uma encenação criada em conjunto com mais artistas diversos - que tornaram-se nossos deuses, áqueles a quem pedimos ajuda e recorremos na hora das crises. Iniciamos com uma leitura dramática do Mar Me Quer, de Mia Couto e Natália Luiza, ao ar livre, para uma audiência de umas 20 pessoas. Nesse momento, nos detivemos a compreensão do texto, tentando identificar personagens e relações que traçam a dramaturgia da obra, e aí, encontramos uma possível atmosfera para a encenação, próxima ao embalo das ondas do mar. Como disse Diana, na ocasião, "é de uma tranquilidade boa, como se estivesse embalado nas ondas do mar"...

Daí, nos embriagamos nas múltiplas possibilidades e realidades poéticas e cotidianas da obra, gerando performances, intervenções urbanas e instalações cênicas, em diversos espaços de Salvador. Um desafio! Afinal, o nosso contato com o espaço público havia sido através de um espetáculo apresentado numa praça ou em ensaios acontecidos ao acaso no Passeio Público, quando não tínhamos sala. Fomos do intimismo do Museu Rodin - Palacete das Artes ao expositivo e disperso do MAM, enbalado pela JAM, passando pela confusão do Passeio Público em dia de Cabaré da Rrrraça e do transito de dois da Estação da Calçada.

Na etapa seguinte, definimos nossas relações e nos aproximamos de artistas tão especiais quanto são seus sentimentos e questionamentos, atriz minha. E aqui, você se desnudou encontrando caminhos que traduziam seus anseios enquanto artista e integrante da Companhia. A presença de figuras de fora, queridas, ressaltadas de expectativas, fez de você um céu explodido em fogos de artifício, expondo cores, desenhos e texturas luminosas que só você pode nos dar. A atriz saiu do encontro com Fabinho enredada em partituras e estruturas corpóreo-dramatúrgicas criadas a partir da experiência com os três personagens, que ganharam corpo, voz e estado (talvez). Com Diana, um universo musical, preenchido por cirandas encantadoras e tão próximas a nossas memórias, nos enbalou em sonhos e quereres.

Ainda faltava mais água, terra e adubo para que as flores crescessem e revelassem suas saturações em cor e cheiro. Aí, vieram os Clowns Fernando e Marco, para embaralhar e apontar um caminho dramatúrgico para a encenação, iniciando-nos e nos emprestando seu "Balai" mágico. Foi então que os botões de flor surgiram, uns para bem-me-quer em páginas brancas e outros para mar-me-quer em páginas pretas. O instante de quase e efetuação de uma cama sonora, te faz brilhar os olhos - chegamos onde tanto queríamos, atores-músicos! Euforia, ansiedade, satisfação e muita expectativa misturada com pré-concepções de algos que poderiame podem ir para a cena.

Hoje me envolvo e trabalho buscando um desabrochar de você flor-atriz. E que contradição, para você florear eu preciso lhe despetalar, que nem planta em época de muda, se você não tirar os ramos, ela seca e morre. Assim tenho trabalhado, descascando você e o elenco, indo ao encontro do vosso miolo potencial, vivo e tão preenchido de essência verdadeira.

Tal qual um japonês que espera o florecer da cerejeira, tão breve e singular, eu caminho e lhe trago comigo para este encontro. Mas não quero que ele seja rápido como as flores da cerejeira, que came no terceiro dia. Que você encontre esses instantes de magia e diálogos de alma entre você, as personagens e a obra que estamos criando (juntos) e os preserve nas nossas muitas repetições internas ou compartilhadas com o público.

Tenha calma, minha'triz, deixe as ondeações te levarem nesse Mar... Não queira aldrabar o tempo, por que eu também não o quero assim, mas temos que respeitá-lo de algum modo, ele é senhor de tudo e avança tão rápido quanto nossas ansiedades!

Luiz Antônio Jr.

4 Comentários:

Manu Santiago disse...

Essa flor luta para saciar sua fome... e te agradece por tudo!

Fernando Yamamoto disse...

Vocês são uns lindos! Tamos em Jampa com a Diana, falando muito de vocês!

Fernando Yamamoto disse...

Vocês são uns lindos! Tamos em Jampa com a Diana, falando muito de vocês!

A Outra Companhia de Teatro disse...

Êba, Fernadovsky! E estamos aqui trabalhando direitinho e anciosos para ir pro Barracão, e encontrar todos vocês. Esse Mar tá lindo!

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