ator atuante
"Mar Me Quer" traz uma série de singularidades numa composição plural de encenação em forma de arena. Um espaço que traz em seu cenário velas, roupas, instrumentos e muitos objetos de metal, barro e madeira, dos quais são extraídos sons compondo uma atmosfera musical, preenchida por cirandas, canções populares, ruídos e silêncios. Um jogo de luz e sombra envolve os 02 casais de atores, com biotipos, idades e formações bem diferentes, interpretando 03 personagens: a mulher, o velho e o homem.
Inveredando nesse mar, me deparo em busca de um ator atuante. E trago esse conceito de Fábio Vidal, com quem fiz um curso há mais ou menos dois anos atrás, e que hoje compõe a equipe criativa de Mar Me Quer. Entendia o atuante como aquele que cria, se apropria e recria a cena, de modo que é autor e ator, com tamanha propriedade a ponto de alterar o desenvolvimento da atuação, atribuindo novas informações, sem perdas na qualidade do produto compartilhado com o público. E neste caso, o atuante trazia em si elementos ou talvez princípios do teatro, da dança e da performance, numa execução dramatúrgica própria.
Com o processo do Mar Me Quer, me vejo trazendo na encenação um pouco deste ator que é atuante, mas vou além. Se buscar no dicionário, atuante é aquele que age, então, acredito que nesse Mar, os atores são atuantes em todos os sentidos: executam e criam a composição sonora, transformam os objetos do cenário em imagens, interpretam os três personagens, cantam, expõem seus segredos e se revelam agentes múltiplos executivos da cena que lhes pertence, afinal tudo tem sido criado junto, do cenário ao figurino, das músicas ao texto.
Daí, entendendo a atuação como um modo de interpretar um personagem - dar vida, criar um corpo, compor uma voz -, penso que, mais do atuar, os atores nessa montagem são agentes/operários/artesãos da cena. E tudo isso foi alcançado a partir do jogo Balai, trazido pelos deuses clowns Marco e Fernando.
Luiz Antônio Jr.
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