sábado, 12 de junho de 2010

Uma timbragem para os personagens

Ontem, a noite, Fernando trouxe uma dinâmica de jogo para timbrar os personagens, como ele mesmo disse...


Andando pelo espaço, os atores traziam os personagens da peça, um a um, pensando: no modo de caminhar, centro gravitacional, a transferência de peso, o olhar, o andamento do deslocamento, a respiração, o impulso, o estado, a pulsação, as tensões... aos poucos, ações cotidianas são executadas livremente: acenar, lançar, empurrar, agachar, apontar, segurar, correr... depois de passar pelos três personagens, a fala ganhou espaço associando-se as ações e deslocamentos, trazendo fragmentos do próprio texto para o jogo, neste caso atentando para o tom, a métrica, a marcação, as pausas, os subtextos... Experimenta só o corpo, depois só a fala, com ou sem deslocamentos...

Daí, um de cada vez, mostra aos outros sua construção de Zeca (por exemplo), para que no momento seguinte, todos possam reproduzir: corpo, estado, deslocamento, jeito de falar... de modo que as opções do outro possam ser incorporadas a sua criação, descobrindo outras possibilidades de interpretar o sujeito da cena, seja o homem, a mulher ou o velho. E mais do que isso, definindo as diferenças entre eles. Encontrando, ainda que assim, a timbragem entre as interpretações de cada ator para os mesmos personagens, afinal é um Avô que é interpretado pelos quatro atores, e assim com as outras figuras da obra.

Assim, observando e experimentando o que o outro faz com o mesmo personagem, o compartilhamento de idéias e formas de interpretar a mesma figura se dá quase que por osmose. Eu diria até que é inevitável não somar um detalhe do colega a sua atuação, seja uma intenção para a fala, um gingado no andar, um modo de olhar, um gesto... alguma coisa fica na memória.

Com esse jogo, uma janela se abre para uma unidade entre as interpretações dos personagens que não está na mímese. Não é o nosso foco fazer com que todos os atores tenham uma mesma estatuária e/ou tom de voz para cada personagem. Por exemplo, o Avô anda lento, fala mais grave e é mais denso; a Luarmina é delicada, com uma voz mais aguda e um deslocamento nem tão leve nem tão carregado; e o Zeca é mais leve, ligeiro... Até porque, desse modo, se atinge (acredito) um estado e composição óbvios, que não interessa. Embora encante o público, que poderia dizer: "uau! olha como eles fazem a mesma coisa, todos".

Além de que é impossível desconsiderar as diferenças físicas dos atores e os meios de composição de composição de personagem de cada um. O jogo é nosso foco. E é aí que entra a importância das peças (roupa, texto) e das regras (os estados, a pulsação, a respiração...).

Mais uma luz trazida pelos deuses (rsrs)...

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